quarta-feira, abril 25, 2007

MFA


Marcha do Movimento das Forças Armadas!

Se bem me lembro uma música arranjada no fantástico arquivo das instalações do Radio Clube, na própria madrugada de assalto aquelas instalações.
Soa bem? Soa a Liberdade! Força 25, Força Liberdade, Força Anti-Facismo, Força Anti-Xenofobismo!

Recorde-se como foram aqueles dias, por Otelo de Saraiva Carvalho o Comandante das Operações, em entrevista ao Expresso:
"EXP. - O então major Otelo foi o último a sair do Posto de Comando da Pontinha, já no dia 26 de Abril, às 13h30 da tarde. Nessa altura, o que sentiu? Era o momento da solidão do vencedor?
OSC - Pensei isto exactamente: «Esta malta foi-se toda embora e deixou-me aqui sozinho!» De modo que fui eu que arrumei a casa: guardei as granadas e as pistolas que tinham ficado ali soltas em cima das mesas, fechei as gavetas, retirei a minha carta do ACP que me tinha servido de mapa para acompanhar as operações das unidades do MFA, e pronto. Apaguei a luz, fechei a porta, meti-me no carro e fui para casa
...
EXP. - Voltando ao dia 26 de Abril. Que comentário lhe fez a sua mulher quando você chegou a casa? Ela estava ao corrente de tudo?
OSC: ...Por razões de segurança, decidi ir dormir à Pontinha logo na noite de 23 e não voltar a casa, porque podia haver uma denúncia e ser apanhado em casa pela PIDE. Só nessa altura é que lhe disse: «Tens acompanhado estas reuniões todas que temos feito. Vamos fazer uma revolução e eu tenho um papel importante aí a desempenhar. Vou comandar esta coisa. Vou daqui para o comando clandestino e não sei o que é que isto vai dar. Pode dar uma vitória, mas também pode dar para o torto. Se, por acaso, formos derrotados, eu despeço-me de ti, porque nunca mais, de certeza, nos veremos. Tens de te preparar psicologicamente para isso. Cuida dos filhos. Se isto der vitória, depois de amanhã estou em casa e vamos almoçar»
...
EXP. - E quando chegou a casa?
O.S.C. - Quando cheguei a casa, com a barba por fazer, já não dormia há três noites, foi uma alegria bestial, ela agarrou-se a mim e eu disse: «Prometi que estava cá para o almoço do dia 26 e cá estou».
(Extractos da entrevista ao Expreso no 25º aniversário do 25 de Abril.)

Depois há a história. A que todos conhecemos. Otelo foi o estratega do 25 de Abril e Otelo foi, em 74 e em 75, a cara e o espírito da Revolução. Com hesitações, com recuos, com dúvidas, com actos impensados, com generosidade, com alegria, com erros, com sonhos. Como a revolução.
Encontrei-o um dia, em 1976, na campanha para as presidenciais. O Zeca cantava no coreto do jardim. Depois ele falou, a seguir fomos comer sopa da pedra. Otelo teve uma votação extraordinária. Apesar de tudo que a história também guardará. Depois houve mais. Algumas coisas a história se emncarregará de colocar no seu devido lugar. Mas, seja onde fôr esse lugar, estou plenamente convicta, que em todos os momentos foi a generosidade e a utopia que lhe comandaram os passos. Os mesmos que o levaram à Pontinha. E a ser o último a apagar a luz....